Iter doloris

A crista da onda que via em março

Senti-a em tempos singelos e puros

Não sei bem se fora em nó ou em laço

Bateu em meu peito despido de tudo

Sob a luz virginal de um amanhecer

A onda cresceu reluzindo teus olhos

Olhava da praia a espuma envolver

Sentindo tua pele, ferindo-me em espinhos

Teu riso brilhava oceano afora

O sol ascendia tão primaveril

Hesitante eu ia lembrando de outrora

Chegavas em sonho: já era abril

Com o peito autêntico, inocente e leal

A onda tomou minha alma cativa

Teu carinho singelo arranhou-me em sal

Sucumbi mar adentro já quase sem vida

O sol cresceu tanto que cauterizou

Meu peito tão largo, estendi resoluto

Abriu-se em ferida e então cicatrizou

Açoitado em maio, sangrando de tudo

Minha lágrima vã jogada às serpentes

Que emboscavam desde abril o meu coração

Emergem no mar já com tantos dentes

Que me encolho trêmulo em meu colchão

Assisto na calada da noite normal

A minha imponente catedral ruindo

Vertendo para o chão tão putrefato

O mar revolto, fervendo e sorrindo

Nada como a lâmina, esperança exaurida

De tudo o que feriu-me e hoje me dói

Sorri a chegada e amarguei a partida

Dos olhos da moça do balé Bolshoi

Eduardo G Silva
Enviado por Eduardo G Silva em 07/08/2017
Código do texto: T6076270
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