RECEITUÁRIO POÉTICO

Onde quer que eu esteja

Poesia, seja.

Que eu me torne uma ilha

Cecília.

Um abajur me desperte

Prévert.

Tragam-me gerúndios, particípios

Vinicius.

Dêem-me uma dose de uísque

Leminski.

Fechem-me num naipe de tons

Drummond.

Em tudo exista a mulher

Baudelaire.

Que eu saiba de cor minha sina

Cora Coralina.

Depois duma puta bebedeira

Bandeira.

Auroras decapitadas, saudade

Mário de Andrade.

Todos os riscos de um giz

Alice Ruiz.

Se a vida severina for banal

João Cabral.

Caso haja mesmo amor

Rimbaud.

Às palavras soltas nos porões

Camões.

Por mais que eu finja à toa

Pessoa.

E se tudo isso for debalde

Oswald.