soneto 06

O universo que reservo em mim,

Mesmo em êxtase, morre à míngua.

Toda palavra, mesmo antes do fim,

tomba e morre à beira da língua.

O verso nasce e apodrece assim,

como uma fruta ainda não colhida.

Uma bela árvora cheia de cupins,

viagem acabada antes da partida.

O poema cresce doente e sonolento,

sem os préstimos de musa ou deusa.

Cai-lhe dentes da boca arredia.

A todo e qualquer brusco movimento,

perde um pouco mais da sua beleza.

No chão, vai largando a poesia.

Jorge Ferreira
Enviado por Jorge Ferreira em 18/10/2005
Código do texto: T60914