O ESPANTALHO
 
Meu colo não pertence aos hipócritas!
Para os tais, uso roupas grossas, confeccionadas 
Com cactos juvenis, viris com seus espinhos 
A deixar cicatrizes sem remorsos;
Dos ramalhetes de flores silvestres da urtiga “braba” 
Que comunga com o vaqueiro e o fel dos meus lábios.
 
Tento evitar abraços falsos por mãos
Que já deveriam ter sido cortadas, 
Mas que às luvas luzidias provavam o contrário -  
Não me dão visão se carregam 
Consigo adagas em forma de unhas; 
Garras; punhais; terços, crucifixos 
Ou a malícia do abraço apertado 
Que nos atinge opressivamente 
As vértebras lombares e as vértebras fusionadas
Irmanadas aos ossos cervicais.
 
Eu sou o solitário espantalho no meio
Da plantação amarelada do milho...
 
Sem futuro de se criar e morrer no aborto
Do ventre de suas espigas secas, por
Falta do oxigênio da chuva;
 
Eu sou o solitário espantalho no meio
Da plantação  do feijão “de bater”,
 
Inimigo perverso desta 
Seca cadavérica, de olhos sem Fulcro, 
Sem o estofo da matéria pura que a plantação moribunda, 
Já perto da extrema unção definha a conta-gotas; 
Na rapidez dos ponteiros –
Morteiros dos relógios e da areia das ampulhetas.
 
Eu sou o solitário espantalho no meio
Da plantação cortando milhares de hectares, 
 
Duma extensão esplendorosamente linda,
Do verde mais bonito de todas as Esperanças; 
Acabei, nesse dia, sendo o fruto piromaníaco 
Dos espectros que não se apareciam. 
 
Eu sou o solitário espantalho no meio da plantação do mundo
Globalizado, onde as pessoas não enxergam mais os carros, as ruas,
 
Os monumentos, os prédios; as próprias pessoas 
Não se conhecem entre si, a Tecnologia 
Ludicamente aproxima a ideia, 
Mas distancia o contato, 
E esse é o fato: O grande erro que deu certo. 
 
As Redes Sociais vão conquistando
O mundo como os enormes latifúndios de terra cibernéticos, 
E da mesma maneira, como é a terra,
São os seus domínios virtuais.
Sempre existirão os 
“Os solitários espantalhos sozinhos” 
A esconder o temor de uma vida social de
Negações, em troca das facilidades
De milhares amigos fantasmas, como
“Poltergeists” a lhe encher o saco
O dia inteiro, reciprocamente. 
 
Eu sou o solitário espantalho no meio dessa plantação
De novos humanos que não precisarão mais das incubadoras, 
 
Dos peitos das Mães, dos brinquedos infantis,
Pois os smarthphones já fazem tudo sozinhos. 
- “Bonecas “Barbie”!?  - “Nunca mais!”
Talvez nem das babás! 
“Viva la revolución!” 
Pois toda a História da Humanidade 
Banalizou-se na pasteurização das Enciclopédias
Virtuais, sites de busca, e outras ferramentas...
Outras tecnologias; não as condenando, 
Mas ainda tenho saudades do amarelado 
Das incontáveis páginas da Enciclopédia “Barsa”.

 




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Agmar Raimundo
Enviado por Agmar Raimundo em 23/08/2017
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