CAMPOS CITADINOS

Habito em bem menos terra

que a que habita em mim.

Coexistes, consolada pelo pretexto

que sou pobre aos teus braços,

raíz da minha súbtil riqueza.

Floresces a realeza dos sentidos

em magros panos de seda

vencedora do seu mais belo infortúnio,

carne colada aos seus ossos

em diante da dor que os separa,

conjuntamente com a verdadeira língua

do profeta desordeiro.

Tudo passará pelo o que foi sendo o que será.

Perdido, na vastidão de um ponto complexo

criado por uma qualquer pedra concreta

pronta a dissecar em favor do labirinto

de interesses do inútil sacrifício,

revejo o que nunca olhei

pelo canto do olho melindroso

que me chama mais que o fogo em si.

Sou incapaz de transparecer a clareza

a que sou devoto em missas de prolongada

adoração por um mórbido sinal

de um tesouro tão longínquo quanto distante

de existir que porém verga a minha impaciência.

Tudo cheira a pudridão nos vastos campos

fabris mesmo que o ideal do verde

esteja cimentado nas suas fachadas.

Ferro embutido em pedras que a nada pertencem

senão ao mar e à terra que as hão de comer

novamente, uma ciência que me impede

de deixar crescer nos ossos a carne,

que lhe é inerente, para um bem comum

que será como já foi negar qualquer fruto proibido.

Daniel Delgado
Enviado por Daniel Delgado em 16/08/2007
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