Pomba em carvalhos distantes

Deixa estar no pincel

a imagem do poema.

Deixa-o lá enquanto é teu.

Depois que saltar à alva folha

em contornos verossímeis

criará raízes como coisa fora,

ainda que proceda do teu íntimo.

Deixa marcada na memória

a imagem desejada e uma saudade.

Algo que vislumbramos quando tristes;

que queremos por ser sonho

e que a amamos por impossível.

Folha por folha,

cada novo traço esvai o sonho

cada risco em asas vai voando

e criando ninhos em um país distante.

Deixa a pintura enquato podes,

sublima-a em ti enquanto tua,

pois que depois que o pincel

engendrar o traço, ela te deixa,

mas não tu a ela.

Pomba em carvalho distante,

talvez seja esse o sonho que querias.