Retrato do poeta quando velho
A medida da beleza é sempre o outro
Mesmo que velho e roto
É um rosto a se espelhar
Mas o brilho d'outrem também embassa
Ponho-me a mourejar
Não tenho mais a pretensão dos jovens
Tive
Não tenho mais
Quando jovem
Escrevia qualquer asneira em duas estrofes
E logo emuldurava e dependurava na sala de jantar
Em letras doiradas
De chofre
Hoje escrevo e amasso
Cuspo em cima
E engaveto
Espero
Quando madurar as desenterro
Da pilha de papel
Dos meus restos
Reconstituo um verso
Outro risco
Arrisco e erro
As métricas já nem meço
Formam-se imagens
Esquecidos rostos
O meu próprio
Que me mostra um quadro todo
Meu retrato
Estou velho e insosso