A MISSA

Chovia uma fina garoa por todas as ruas que passei,

Crescia na minha alma um que de insegurança,

Fermentava no meu corpo um misto de valentia e medo.

Identifiquei de longe as torres,

Não vi o relógio que estava de costas.

Localizei-me, desci mais duas quadras ansioso,

A chuva dispersava a atenção das minhas mãos,

Por pouco, mais por muito pouco mesmo não parti.

Fiquei. Como se soubesse que seria sacrificado,

Como que qualquer movimento do meu corpo fosse involuntário.

Adentrei o recinto, de fronte localizei a cruz,

Permaneci em pé num ato de rebeldia,

Num último lampejo de sobriedade.

Sentei sozinho no centro,

Ninguém a minha esquerda muito menos a minha direita.

Engasgado,

Alguma coisa forçava a passagem na minha garganta

Um bolor, uma dor, rancor, ódio,

Tudo querendo deixar o meu corpo.

Sentado ali não estava mais sozinho,

Respirava a sabedoria e a tranqüilidade

Sabia que não havia o que temer,

Não estava mais só,

A paz me fazia companhia,

A paz me faz companhia.