Areias do tempo

Lá na serra onde mora

Uns parentes meus

Cuja os nomes já estão

Esquecidos no tempo

Havia quando eu era criança

E costumava ir sempre lá

Um poço cheio.

Hoje com a morte de um deles

Fui para o velório e descobri

Que o tal poço estava seco

Em consequência de um inverno fraco.

E não era só o poço que estava

Nosso parentesco também,

Já nem se notava uma gota.

Me lembro bem de como era divertido

Se banhar naquele poço

De como era divertido nossa amizade

Tudo veio a tona, as lembranças

Em meio ao vazio

E era como se chovesse no meu coração

Que a muito tempo não era regado.

Se você olhar para mim

Verá que eu tenho um imenso vazio a preencher

Tão vazio quanto o poço

Sem chuva não nasce flores

Apenas os cactos sobrevivem no deserto

E aquelas lembranças da minha infância

Lubrificaram meus olhos secos.

E meus parentes chorando no enterro

E eu chorando no passado

Onde minha vida era cheia como o poço

E hoje não havia uma gota d'agua.

Há sempre um avanço e retrocesso no tempo

Nascemos com com nada, e morremos com nada

O meio da vida pode-se ter tudo, mas no final é o mesmo que nada.

Tal qual como aquele poço

Feito por erosões

Hoje seco, logo será enterrado

Pelas areias do tempo

Como nosso corpo morto

Como as esculturas no deserto

E como aquela parte da minha infância.