VIREI POESIA

Já fui o pó da estrada que a boiada pisou.

A estrela que o boiadeiro no alto apontou.

Já fui a lua de prata que enfeitava o mundo,

E, ainda, o sol morno das manhãs de junho...

Já fui céu de poeta, já fui luar de lua cheia.

Já fui chuva na seca do sertão, já fui oração

na boca de benzedeira, já fui fogo de graveto

esquentando janta magra, já fui leite de mãe...

Já fui ladainha nas rezas e festas dos sertanejos,

Já fui capim de pasto, fui pisado, nasci de novo.

Já fui passarinho fraco no forte sol de setembro,

galho seco de ninho vivo, nasci ovo, tornei ave...

Já fui de tudo na vida: já fui anjo e melodia, dia

quente e noite fria. Já fui bom de poesia e ruim

de caligrafia. Já cantei a matemática e decorei a

geografia. Já fui Deus, já fui o guia, virei poesia...