O MUNDO E O POETA

Em tempos de banalismo, no talento e na virtude,

A poesia, no ostracismo, vive a decrepitude.

E o poeta nasce sensível,

Vive, amiúde, na contramão,

E descobre-se perecível,

Descartável, sem noção.

No espaço da propaganda, consumismo e ostentação

Rabiscam rima engajada, de rápida propagação.

E o poeta que se vende,

Preserva o bolso e a saúde.

Mas em pouco tempo se rende

Ao destino fugaz, vil e rude.

Nasce chorando, vive cantando,

Morre sorrindo, só lamentando

Estar seguindo pra outro mundo.

Olhos fechando, mente partindo,

Outros olhando, talvez medindo

O vasto legado do moribundo:

Vernáculo lindo, profuso, fecundo.

Viveu entre todos, mas ignorado.

O mundo, apressado, precisa lucrar.

Não há mais lugar para a inspiração;

Somente balada e agitação.

De repente a pausa, a reflexão.

Morreu o poeta, lembrou-se então.

Postumamente é homenageado,

Lido, citado e romanceado.

Sua essência, bem viva, de lá do outro lado,

Assiste ao tributo, querendo voltar,

E implora uma chance ao Todo Sagrado;

Mas Este prefere apenas mostrar:

O tempo se move com mais rapidez,

E logo o poeta se vê esquecido.

O sorriso se esvai, dentro da languidez,

Que assoma à alma de um ente caído.

A voz poderosa de Quem lhe assiste,

Define o fulcro de toda a história:

- “ Os seres humanos tornaram-se um chiste,

Vivendo aos trancos, em luta inglória.

O que tu cantaste, o que tu sentiste,

Vingou entre poucos (porção irrisória).

Mas não há motivo para que fiques triste.

Tua obra apenas parece simplória;

Teu objetivo na vida, cumpriste.

Há um lindo cultivo da tua memória,

Singelo, mas denso, que cresce, persiste,

E a semeadura está satisfatória.

Aquilo que, em tua poesia, induziste,

E em mentes estéreis, confiante, carpiste,

Desabrochará em atitudes notórias. “

O poeta sorriu, meio acabrunhado,

E, em meio ao vazio do céu enevoado,

Uniu-se ao Todo. Foi perpetuado.

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 21/10/2017
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