Renascimento

Eu escrevo lamentando essa natureza com a qual nasci,

essa peça sem hastes pra se encaixar nas outras,

esse medo de tudo, em tudo. O medo me faz andar mais rápido na rua, sem reparar nas outras pessoas. O medo me faz deixar a luz do corredor acesa à noite. O medo de queimar a comida me faz com que eu sirva ela crua. O medo de parecer tola me faz não aparecer, ficar em casa. O medo de amar e não ser amada me deixa circulando sobre nada. Sozinha.

Escrevo pra crer que essa não é minha natureza. Pode ser, agora, mas pode mudar completamente. Luto por uma natureza sem medo ou receio, luto por alguém que pule de cabeça das possibilidades ruins: o escuro, a rejeição, o estranhamento, o sofrer.

Um dia, talvez amanhã, vou voltar com a testa sangrando porque pulei de cabeça. Mas pulei. Quebrei minha natureza.