SOLIDÃO COMPANHEIRA
Éramos simples e completos
Estávamos vivos e atentos
Tínhamos um sorriso público nos lábios
E uma tristeza amiga na solidão
Era assim…
Não trazíamos dívidas no bolso
Apenas as mãos descansadas
Enquanto olhávamos pra frente sob o sol
A paz fechando os olhos de satisfação
Era mesmo assim…
Aquele sossego suado na pele…
Hoje, neste dia, me custa bastante a poesia
Algumas palavras chegam atravessadas
Impedindo um grito rouco de exaustão
A tensão trotando os nervos
Um sorriso privado nos olhos
Cabeça em riste e lábios apertados
A paz ficando longe até onde a vista não alcança
Um cheiro antigo galopando a solidão
Acredito que outra chuva ainda cairá
E levará nossos danos ao escritor
E uma novela vencerá bilheterias
E nas bancas de jornal
Em pleno e ensolarado domingo
Você irá comprar o último número
O melhor de todos
Aquele em que no final terá uma foto
simples por do sol numa praia distante
tão distante que nem sei
e entre o leitor e o horizonte
um menino acenando
com uma das mãos para o sol que está indo
e a outra descansando no bolso
cheio do sal desta vida…