Diagnóstico

Todo mundo carrega alguma dor.

Uma única dor, pelo menos

inalienável, intransferível.

Uma dor vira-lata de rua que nos segue

aonde quer que possamos ir

Tem gente, já vi, que tem uma dor pastosa

de retrato extraviado pelas horas;

Outros têm uma dor meio atravessada

de solilóquio com o travesseiro...

Recentemente avistei uma moça

que tinha uma dor saliente de água morna no poço

se parecia, no geral, comigo

-Eu soube pelo silêncio dos olhos dela-

e nunca mais a vi.

No particular, senhores, e a quem interessar,

eu tenho

uma dor de sacola que foi parar

no galho mais seco da árvore mais

cheia de galhos...

e o que tenho feito da vida até aqui

é esperado pelo vento

e sabido que não elevo aos céus outra coisa

senão a minha dor de plástico.