Trapos
A luz está entre a janela e a cortina
E jamais entra,
Estou preso neste lugar úmido,
A loucura paira no ar,
Eu a respiro.
Minhas lágrimas secaram,
Só faz doer mais, porque sufoca.
Tento sair e saio desajeitado,
Semelhante a uma comida meio estragada
Que insistimos em servi-la na mesa.
E eu perdi até o silêncio que tinha.
Quando a voz se revelou, foi um desencanto,
E quanto mais desencantada, mais falava alto,
Até se abafar no próprio grito.
E agora, já com meia idade, restaram-me vultos,
Coisas que não posso tocar.
Minha existência se dá na não vida,
Como um lugar inalcançável, indescritível,
Inviolável. Ininvejável.
Inútil,
Como trapos roídos por traças
De um quarto sujo.