OS ESTRANGEIROS

Nem tudo é poesia neste país

Nem tudo é carnaval

Nem tudo é futebol

Nem tudo é samba

Nem tudo rima com dignidade

Ou sequer com liberdade e democracia...

“Pero Vaz, dónde vas”, se nem sabes

Por onde caminhas? Estrada de duques,

De condes, deu no que dá no reino das

Bruzundangas, das mugangas e das

Medidas provisórias, sem métricas, aéticas,

Antiestéticas, ilusórias, escalafobéticas...

Ah! falta de sorte do vate ao ter nascido nestas terras

De aquém-mar, onde se legisla a dor com despudor

O que leva a nação à inação, ao triste fado, ao desatino

De ser grande e ser pequeno menino tupiniquim

Frágil, tão frágil assim, com dor de barriga, dor de dente

Dor de intriga, dor de ferida antiga que não para de sangrar...

Desde os mil e quinhentos e lá vai fumaça que essa sina

Não passa e assassina com sanha o destino de quem

Tem apenas o medo por enredo e também o desengano

Esse laço, o nó insano que sufoca a garganta

Uma tristeza de chicote sobre o lombo

Quilombo dos pesares - dos czares, dos césares? – dos azares

Que zombam de todos nós que ficamos no assombro

No susto do custo de vida que nos custa tanto

- e ainda por cima nos fazem de bobos na corte...

E dançamos todos nós.

O samba no pé, a tristeza na cara.

A bola rola e somos verdadeiros campeões

- da safadeza e da corrupção.

Nem tudo é país neste carnaval.

Aqui a cartola sai do coelho.

Aos de fora, rezamos e dobramos o joelho.

E de nós mesmos somos estrangeiros.

 

José de Castro
Enviado por José de Castro em 12/11/2017
Código do texto: T6170069
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