Ao léu

Como se fosse pluma etérea
Levada ao léu, ao sabor dos ventos
Desde que deixou seu recanto,
Nunca mais olhou para o céu,
Por saber que não mais teria o encanto
Que antes vira em seus olhos
úmidos por lágrimas felizes
ao se amarem mesmo que por instante
que se desfez no ar como se um raio
em uma tarde de primavera
e ressoou através dos morros distantes.

Por vezes, quando o vento se fez forte
Divagou alto, sentindo que para longe,
Ainda vendo no horizonte seu vulto
Chegando a clamar pela própria morte,
Lenitivo pra esse copioso pranto
Que lhe embargou a voz e cessou o canto...
De outras vezes, tempo de brisa suave,
Plainou sobre campos de flores entreabertas,
tocando-as como se aves
A chilrearem ao nascer de um novo dia,
Refeito, tecendo arabescos em sua face,
Passando a enaltecer em poesias,
O tanto amor que brotava de seu peito,
Como se entregue a um culto.


Esse poder que tem a poesia,
De convertermos lágrimas sentidas em dolentes versos
E até mesmo a dor de se viver distante
Do amor amado, da namorada querida,
Mesmo sabendo que não mais serão amantes,
Mas que sobreviverão por toda a vida,
Vagando juntos, mesmo que por instante,
Em lembranças pelos confins do universo...
E tornar a sentir, a cantar, a compor,
Que do tudo vivido nada se perdeu,
que ao próprio tempo sobrevive o amor
se verdadeiro e será eternamente seu...


 
LHMignone
Enviado por LHMignone em 13/11/2017
Reeditado em 11/04/2018
Código do texto: T6171026
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