Algo.

Amanhã algo haverá,

Isto é, se algum Amanhã houver.

Hoje,

mais precisamente, agora,

"Algo" que, por certo antes existia,

Não mais existirá!

Perecerá como tudo que antes morreu,

Tudo, como tudo, será substituído.

Será recolocado, repaginado, refeito...

E, desse jeito, tudo será renovado!

E o Antigo, só como memória

permanecerá.

Na absoluta impermanência de tudo o que é (está) vivo,

Só o que é constante é a Mudança!

A identidade se faz, desfaz, e se refaz,

A cada microssegundo.

A cada micromemória.

E, no fundo de tudo,

Assim me reconheço,

(às vêzes, me esqueço)....

Nessa recoleção de memórias esparsas e incertas,

Sou aquele (ou aquilo)

Que deixa um traço no disfarce.

Cada máscara

( que tanto busca esconder)

Deixa,

apesar do esforço inaudito,

Um traço.

Apenas um bagaço daquilo que foi espremido, comprimido e

corrompido.

Marcas daquilo que uma vez foi,

mas já não mais é.

Xerox borrada, tantas vêzes copiada,

demasiado repetida que,

desta cópia de vida,

não se identificam os geográficos limites.

Mas, de alguma forma,

Nesse borrão suspeita-se de algo vivo e independente.

Talvez uma marca sobreviva:

Aqui, onde antes um corpo havia,

agora há sua ausência!

Talvez um guia, talvez um impreciso mapa,

que, se não aponta,

dirige,

guia uma reconstrução possível.

Uma receita para recriar o que antes amava e se movia.

E que agora já não o faz,

porque aqui, já não há mais.

Quem sabe?!