Oblíquo

Sou tanto oblíquo e no meu peito

o coração toca no ritmo

de missa de sétimo dia.

Não falo sobre as coisas que estão cá dentro e

este silêncio que uso me deprime e o amo

por ser tão certeiramente esse silêncio que o silêncio é.

Nunca soube ser tão verdadeiramente qualquer coisa

que fosse mais que algo invariavelmente incerto.

Por ironia louvo as raras certezas que podemos ter.

Araras, cercas alheias e insetos alados

me confortam na medida em que posso ignorá-los

e continuar nisto de respirar piscar respirar piscar...

Entre falar e calar rastejo para não tomar partido e

tenho pisado em gelos, em facas, em ovos

enquanto me escondo atrás dos meus olhos de vidro.

Sou antifísico e não me aprumo com nada nem ninguém.

Não sei estar diante de alguém HOJE AGORA

como quem está diante de mim HOJE AGORA trabalhando e vivendo.

Estou presente no passado e no futuro

e passo absolutamente ausente pelo presente.

Não me faço falta e é certo que me mato antes de morrer.