No interior
Eis sol que brilha
Ofusca os olhos.
Jumba da minha quimera,
Fera entre as feras.
Reina na minha selva
O dia a dia.
Eu tropeço
Eu caiu
Me ralo
Me quebro
Mas me reinvento
Como se não fosse nada.
Um corpo morto
É frio, é palido
Beleza límpida
Criação de Hades
Para os vermes.
Agachado
Não me encaixo ali
Todo mundo é de se estranhar.
Desespero, grito.
Inferno, é o diabo?
Ah que saudade da minha gente
Da poeira da estrada
Do ar puro do estrume
Do pé de jucá
Onde armava rede
Pra deitar a tarde.
Volto tudo
O cinza da fumaça
O mormaço do seco
E a preocupação
De chegar vivo em casa.
Eu corria na estrada
Brincando de pega pega
Atrás do cachorro
Sorrindo para o vento.
E tropeçava
Joelho ralado?
Era de Deus.
Hoje eu corro
Como se fosse vida ou morte
Com pernas desesperadas
Como se nada mais importasse
Como se eu tentasse
Fugir de mim.
Ah! Quimera uiva.
Ah! Tempo me preserva.
Fosse apenas saudade
Eu sonharia com minha terra
Mas é agouro negro
De corujas escondidas em becos
Iluminados ou nas trevas.
Eu lá no interior
Sorria, dentes tratados
Com raspa de juazeiro.
Cabelos lavados
Cheirando a lavanda ou erva doce.
Olhos cintilados
Castanho fosco.
Creme dental com flúor
Shampo anti caspas
Olhos cintilados
Castanho morto
Vendo sentido em viver
Apenas para morrer.
Não me recordo
Quando a tudo morri
Mas o tão pouco que vivi
Foi no interior.