AS LAVADEIRAS

No cochicho indecente

Das etéreas águas virgens

As lavadeiras em ofício

Batem a roupa suja

Na dura pedra do curso

Amaciam a fibra

Removem as manchas

Exorcizam na água à espera

A alma do que foi usado.

Na ilusão do Sol forte

Sob efeito de gotículas dançantes

Ganham auréolas de arco-íris

Para sobreporem a fadiga do dia.

Ao terminarem a rotina têm

Braços cansados, cabelos molhados,

O canto dos dedos em frangalhos,

A santidade dada pelos calos,

E novo pecado a ser adquirido

Para mais tarde passar novamente

Pelo batismo alvejante das mãos

Das santas lavadeiras dos rios.