Mundo
Mundo, mundo, mundo me pega
me engole para percorrer
o caminho traçado
me coloca em teu seio
para cear sem grandes dores
de cabeça quero bater em você
e quicar como uma bolinha feliz na tua cara avistar
o que não perdi, o que está guardado a me esperar
por mais que eu perca tempo
e mundo não me deixe perder mais tempo
chegar lá
ou em algum lugar
ainda é o que quero
e o que não está bom
o suficiente não pode me conter
Nasci para arte grande
Nasci para não caber em mim
e muito menos nos outros
sinto que a minha vida toda vai ser uma vertigem
da qual não poderei escapar
fugir não é uma opção
talvez só dê para dormir um pouco
como o cara que está na minha frente
o cara de pau há meia hora jaz num sono tão profundo
que eu achei que estivesse a me mirar
pretensões de uma cega
que não recobra a devida atenção à sua paixão sem freio
que me olhem por me olharem
eu não me importo, aliás me importo sim
como quem se importa com o espelho quebrado
a imagem é uma condição torta
de aprofundamentos abismais
O mundo não me deve nada
eu é que devo ao mundo
Rodo em círculos, portanto
da flor que quer cair
mas não cai.