Flashes da existência

Em dias ensolarados, tenho medo de pisar no solo,

tenho medo de me mostrar, tenho medo de ser notado.

Em dias que a chuva aparece, sinto-me mofando,

sem ânimo, sem esperança, e com medo de me mostrar, de ser notado.

E todos os dias se revelam assim,

um pisar de menos, um viver de menos.

Acho que nunca tive vocação para a vida

e o meu habitat mesmo seria num lugar que ainda não tem nome.

Nem o calor da vida, nem o frio da morte.

Nem o êxito, nem a derrota completa.

Como dizia uma grande mestra,

Sou como aquele que tentou e caiu sem graça...

Nem à margem, nem ao centro, fora.

Não tenho algum brilho especial, nem tenho algo a oferecer.

Sou uma decepção de perto, e, às vezes,

uma vergonha para mim mesmo.

Não mereço a vida, e essa, talvez, é minha única verdade.

Mereço desconstruir cada parte do meu corpo,

Desfazer até meu respirar, modificar-me, reconduzir-me, reexistir.

Como ouso projetar coisas num papel se sequer as consigo imaginar?

Sozinho, de novo, cheio de devaneios, com penumbras de vida.

Sou homem de pouca significância, meu significado se dá num lugar hermético,

porque nem eu mesmo pude me identificar como um sujeito.

De repente, como se o sol nascesse no meio das madrugada,

vem-me um fluxo de consciência, vejo a realidade lá fora,

Meu labutar, minha rua sem mistérios,

minha passagem tão sem respostas.

Desci dessa, desci da minha utopia de outrora,

desci da minha falta de espiritualidade,

de minha incoerência que não combina com a realidade...

E fui embora, encarei o destino.