Paraíso
Quero poder gostar de alguém
Que tenha olhos de confiar
Olhos estes que quando se olha para mim
Vê-se exatamente a certa medida
Nem mais nem menos
Olhos que só de olhar dê para se jogar
Me perder para me achar
No final dançar numa boa
Espetáculo de quem nunca ardeu em solidão
Este quero sentir e consentir sem defesas
E se mesmo assim não conseguir gostar
Lembrar do jeito como as coisas de amor são faladas
Tocar o teto como quem afunda a cabeça no travesseiro para pensar melhor
É só o começo de uma viagem muito legal
Mas não tão mais legal quanto a minha cabeça a girar de gosto por adivinhar quem será
Quem virá com tanta parcimônia sem desperdiçar o afeto da espera?
Espera longa que desajusta a paciência e desafia a natureza
Eu ainda sou jovem, falo eu
No fundo eu esqueço de ler a mim mesma
Nos altos e baixos sou velha em busca da liberdade
Quem nunca atira em si mesmo pensando que o alvo está logo à sua frente?
Eu falo da novidade da vida que é antiga no meu coração
Tenho galhos na minha mente que furam o céu
Com tantas dúvidas remoídas
É de se esperar que a ilha livre de minha alma seja machucada
Repetidas vezes em conta
Eu me acho no deserto dos dias que não passam e das noites que não chegam
Eu me culpo por quase tudo
Até pelo que não me é cabível
Sou tola para distinguir o mais simples dos casos
Eu sou amadora e tenho medo de me tornar profissional
Nesta vida que é difícil de se levar
A vida não fala comigo, eu não falo com a vida
Posso muito bem superá-la e até me satisfazer
Sentir-me aliviada ou resignada
Mas não poderei ser tão atraente quanto ela
Todavia não sumirá
Sua presença não cessará
Seus testes não vão acabar
E só o que puder enfrentar
E tanto melhor
Vencer
O paraíso assobiará
Como quem diz
Muito bem, minha filha.