Paraíso

Quero poder gostar de alguém

Que tenha olhos de confiar

Olhos estes que quando se olha para mim

Vê-se exatamente a certa medida

Nem mais nem menos

Olhos que só de olhar dê para se jogar

Me perder para me achar

No final dançar numa boa

Espetáculo de quem nunca ardeu em solidão

Este quero sentir e consentir sem defesas

E se mesmo assim não conseguir gostar

Lembrar do jeito como as coisas de amor são faladas

Tocar o teto como quem afunda a cabeça no travesseiro para pensar melhor

É só o começo de uma viagem muito legal

Mas não tão mais legal quanto a minha cabeça a girar de gosto por adivinhar quem será

Quem virá com tanta parcimônia sem desperdiçar o afeto da espera?

Espera longa que desajusta a paciência e desafia a natureza

Eu ainda sou jovem, falo eu

No fundo eu esqueço de ler a mim mesma

Nos altos e baixos sou velha em busca da liberdade

Quem nunca atira em si mesmo pensando que o alvo está logo à sua frente?

Eu falo da novidade da vida que é antiga no meu coração

Tenho galhos na minha mente que furam o céu

Com tantas dúvidas remoídas

É de se esperar que a ilha livre de minha alma seja machucada

Repetidas vezes em conta

Eu me acho no deserto dos dias que não passam e das noites que não chegam

Eu me culpo por quase tudo

Até pelo que não me é cabível

Sou tola para distinguir o mais simples dos casos

Eu sou amadora e tenho medo de me tornar profissional

Nesta vida que é difícil de se levar

A vida não fala comigo, eu não falo com a vida

Posso muito bem superá-la e até me satisfazer

Sentir-me aliviada ou resignada

Mas não poderei ser tão atraente quanto ela

Todavia não sumirá

Sua presença não cessará

Seus testes não vão acabar

E só o que puder enfrentar

E tanto melhor

Vencer

O paraíso assobiará

Como quem diz

Muito bem, minha filha.

Nina V Vicente
Enviado por Nina V Vicente em 24/12/2017
Código do texto: T6206969
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