A Procura
Nos meus cadernos escolares
Nos meus livros familiares
Procurei-te
Em todas as páginas lidas
Dos livros de folhas amarelecidas
Na agenda, teu nome e no pranto
Procurei-te
Nos pântanos e nos desertos
No ninho e no espinho
Na esfinge do caminho
Procurei-te
No mofo e no perfume
No lago da lua viva,
No luzir do vaga-lume
No céu da meia noite
Procurei-te
Nos campos e nas suas cerrações
No mundo das sombras
Em missas e celebrações
Procurei-te
Nos lábios atentos
A cem anos atrás
Na caixa de surpresas
Em mentes ancestrais
Procurei-te
Em cada amizade conseguida
Na vida amarga da bebida
A cada mão estendida
Procurei-te
No meu próprio sorriso forçado
Em meus abrigos desmoronados
Nas muralhas da incompreensão
A cada perda do meu coração
Procurei-te
No lamento do vento
E em cada respiro da aurora
No mar e nos barcos
No veleiro do pescador
Na sombra de cada amor
Procurei-te
Em um badalo de um sino
Nas entranhas dos meus versos
No segredo e no mistério
Na verdade do universo
Procurei-te
Até no ódio que é produto
Do amor esquecido
Na tristeza endurecida
Pela dor envelhecida
Procurei-te
Na lâmpada que se acende
No lampião que se apaga
Na incompreensão humana
Na tristeza em que se afaga
Procurei-te
E mesmo que ainda tardas
Procuro-te dentro do muro
Na ausência e no desejo
No dia claro, no beco escuro
Procuro-te
Na saúde reconquistada
No amor que em meu peito se agrava
Pelo poder dessa palavra
Começo reencontrar-me com a vida
Nasci para vivê-la, sem vaidade,
Para hoje e para sempre
Anunciar-te, felicidade
RENATO ESTEVES SODRÉ
24/12/2017