CERCAS E REDOMA

Construí por tempo demais

Cercas perfeitamente brancas

E uma redoma altíssima

Ao redor do frágil de mim.

Assim pensei ser fortaleza

A prova de falhas e de amores.

Só que o tiro saiu pela culatra

Minhas cercas e redoma esteticamente

Erguidas e estéreis mantinham

Tudo do lado de fora, sonhos,

Inclusive a promessa de vida.

Quando, enfim, me dei conta

Da atrocidade cometida

Que defesa absoluta é solidão

Comecei a carear minhas cercas,

Trincar e abalar a redoma. Convidei

Pragas e amores, chuva e vento.

Beijei a variabilidade dos dias

Fiz-me mais forte na instabilidade

E descobri o valor do sol sobre a face

Exposta no agridoce do tempo e sentimentos.