A cirurgia

Um pensamento litúrgico

sobre o desconhecimento

do procedimento cirúrgico:

Pra que sentir cortar-me a carne viva?

O que senti?

Foi o talhe do bisturi?

Ainda não...

É apenas a dor...

Pra quê tanta urgência?

A dor faz parte da existência

e seja lá como for,

lamento recusar tanta assistência...

Eu rezo a todos os santos

e tremo...

Eu rezo ao ser supremo

e choro pelos cantos...

E imploro por algo que amorteça

o sentimento de vazio...

O medo...

O frio...

A dor de cabeça...

Estático!

O medo é profilático...

Eu temo a anestesia!

Eu temo o choque anafilático...

O medo é profilaxia...

Meu medo me vacina

e vaticina

um desastre automático:

Eu e a medicina!

Um desfecho dramático...

Quero fugir...

Mas chega uma enfermeira e me domina

e manda eu me despir...

Eu visto este avental

e tremo de pavor...

Imploro, choro e peço por favor...

Eu quero me evadir deste hospital...

O medo é tão normal... Quanta besteira...

São nove da manhã de sexta-feira...

Não quero a cirurgia...

Não me sinto tão mal...

Não é só medo, é rebeldia...

Eu volto de manhã, na quarta-feira,

depois do carnaval!

Poeteiro
Enviado por Poeteiro em 22/10/2005
Código do texto: T62253