Louco da razão
Preciso achar loucuras
o céu de cabeça pra baixo
o céu de rabo torto
o céu de cheiro azul
a coisa mais alta do mundo é o céu
preciso achar algo que não seja tão baixo
o nariz empinado de uma formiga
os horizontes em seus olhos
as patas dianteiras em louvor
joelhos ao chão
para achar loucuras delíro palavras
coloco coisa em seus devidos enganos
engano a esquina com vento
o vento engano com tempo
o tempo engano com relógio mesmo
engano sem trapacear
deixo o ritmo do coração a melodia da reflexão
as coisas que não andam juntas
não são como par de pernas
vi uma mulher com as pernas sem harmonia
ela ainda conseguia andar para frente
esguia sofria desviava do nada
mas seguia
sumiu de minha vista
deve ter chegado a algum lugar
até onde vi
ia
um bêbado não ia
mas o mundo girava
tonto deitou
dormi como um anjo
um anjo caído
anjo sujo
uma criança velha e abandonada
um anjo assim
de baixo do pé de manga
no por do sol
na beira rio
nessas condições sub humanas
mais feliz que algumas pessoas
porque sempre há um mais que o outro
a pessoa mais triste do mundo
há alguém mais triste que ela
porque tristeza não se compara
só por aí
alegria de bêbado
é coisa que rala
para enlouquecer as coisas
preciso botar inconsciência nelas
o sofá hiperativo
não dá descanso para a preguiça
vou jogar uma inconsistência
o relógio com disritmia
com tremedeira
o despertador desmemoriado
o tapete vermelho pisa em mim
esses troços
esses trecos
essas traias
para fazer loucuras penso tirar as asas de um peixe
de um carro
o bico de uma bola
penso tirar coisas das coisas que não as tem
como tirar doce do sal
tirar o sal das núvens
fabricar loucura é impossível
por isso tento
as coisas fabricadas assumem um padrão
se é padrão
perdeu a loucura
a loucura é a falta de padrão
é o homem em silêncio profundo
é o homem em barulho santo
é o santo pecado
o pecado santificador
o homem quem só fala xingando
mas é espirituoso e educado
o homem que não sai pela porta que entrou
que só fala bom dia
que não fala nada com todo mundo
a mulher que tira a roupa sem ninguém dentro
a loucura é o fora da sociedade
o governo do brasil é louco
a onça é louca
quem hoje tem uma nota de cinquenta no bolso
está louco das calças
no mundo da utilidade
este texto não útil é louco
razão do autor