Visita

A noite que se aproximava

Seria como todas as outras

Se não fosse por um acontecimento

Um tanto que inusitado.

O sol se pôs,

Eu como de costume

Namorava o céu pela janela.

Encantado com o arrebol

E o cantarolar das cigarras..

Os animais da noite

Saiam de suas tocas

E os pássaros em bando

Cantavam,

Agradecendo o dia.

Nos minutos seguintes

O silêncio tomou conta

Daquela velha casa

E a solidão me visitava

Como sempre,

Nesse mesmo horário.

Mas como o que invade

Sem pedir licença,

Um frio desmedido

Se instaurou sobre mim.

Chegou junto,

Com um som

De serra

cortando árvore

Bem ao pé da porta.

Estranho no mínimo.

Mas não me agitei

Para saber o que era.

Tentava adivinhar

Sentado ali,

Como quem espera..

Mas não me demorei

Fechei as portas,

Apaguei as luzes

E deitei..

Um pouco ansioso,

Por causa do barulho que ouvi..

Tentei fechar os olhos,

Me cobri.

Mas revirei me na cama

Sem conseguir dormir..

Ouvia,

Passos desengonçados

Que remetia

A um cavalo,

Machucado..

Mas os passos não eram firmes.

Pareciam molhados!

Mas que diabos!!!

Quem está aqui?

Não falei.

Só pensei.

Porque sentia medo..

Parado permaneci,

Tentando desviar os pensamentos.

Mas os passos chegavam

Mais perto do quarto,

Descompassados,

Agoniados.

Eu tremia,

Assustado.

O que estava naquela casa,

Se era gente ou animal,

Estava perto de descobrir.

Não me movi.

Abrir os olhos

E vi luzes

Vermelhas que

Piscavam,

Clareavam gradativamente

Todo o cômodo

Hesitei a levantar..

Olhei de canto

E mal pude acreditar

O que os meus olhos

Descobriam..

Uma criatura horrenda,

Que eu nunca tinha visto.

Tão alta que tocava o teto.

Gosmenta!

Sem olhos!

Com os braços maiores,

Que todo o resto do corpo.

Desvairada!

Parecia perdida..

A criatura não me procurava

E não me ameaçou.

E com sua inquietude

Me despertou

Apenas a vontade de observar..

Por um minuto longo

Ela estava ali

Agoniada

Na minha frente

Procurando talvez uma porta

Respirava ofegante

E a minha presença ali

Era tão insignificante

Que o seu passo desviou

E saiu por onde entrou.

Não me tocou

Não me olhou

Não era por mim que

Aquilo estava ali.

Não sei o que ela veio buscar

Mas sei que ela levou.