CANÇÃO DA ENCRUZILHADA

O linho branco e a lama escura

são parte do palco onde se oculta a lua.

As rendas sujas e a sorte do viajante

são parte intenções, parte quebrada de rua.

Uma invocação do que guarda as cartas,

de cruzamentos e vestígios da madrugada.

Malandragem da fé que pede licença,

são riscos no chão e corpos fechados.

Aquele que, sem nome, brota nas calçadas,

é a cor mais escura, escravizada.

A sorte mora nas casas proscritas,

nos becos onde circulam as solas gastas.

Porque as ruas são nenhuma história

e se cruzam

é que aposto minhas estrelas guardadas.

O vermelho é o sangue tingindo a face

e o suor do batuque é a tristeza de país nenhum.

Uma cartola caída ao chão e o perfume da ausência,

são apenas não se pertencer ao corpo que dança.

A gargalhada e os braços em retorcida reverência

são agora um ente da noite que passa.

Ninguém me viu, ninguém sabe de nada.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 21/01/2018
Código do texto: T6231870
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