CANÇÃO DA ENCRUZILHADA
O linho branco e a lama escura
são parte do palco onde se oculta a lua.
As rendas sujas e a sorte do viajante
são parte intenções, parte quebrada de rua.
Uma invocação do que guarda as cartas,
de cruzamentos e vestígios da madrugada.
Malandragem da fé que pede licença,
são riscos no chão e corpos fechados.
Aquele que, sem nome, brota nas calçadas,
é a cor mais escura, escravizada.
A sorte mora nas casas proscritas,
nos becos onde circulam as solas gastas.
Porque as ruas são nenhuma história
e se cruzam
é que aposto minhas estrelas guardadas.
O vermelho é o sangue tingindo a face
e o suor do batuque é a tristeza de país nenhum.
Uma cartola caída ao chão e o perfume da ausência,
são apenas não se pertencer ao corpo que dança.
A gargalhada e os braços em retorcida reverência
são agora um ente da noite que passa.
Ninguém me viu, ninguém sabe de nada.