O sono dos justos.

Esse desejo de viver na cama

estirado como um morto, com o cabelo desgrenhado,

bocejando mesmo sem sono, bagunçadamente enrolado

tanto no lençol quanto no travesseiro abraçado.

Essa vontade de permanecer imóvel,

ou de me arrastar como uma lesma

de um lado ao outro da extensão da cama,

não levantar nem para colocar o pijama.

Essa preguiça sobrevive à mudança de estação,

seja no mormaço dos dias de verão,

seja no frio terrível das noites de inverno,

meu espírito continua pesado como o corpo de um servo.

Ninguém está permitido a me tirar dessa situação

& aquele que vier a cometer tal delito

decerto se tornará o meu maior inimigo.

Vejo, pelo buraco da janela, a multidão

trabalhando como se fosse gado,

sem pensar mais de uma vez,

volto a puxar meu ronco pesado.

Não gosto dos sonhos nem dos pesadelos,

ambos deixam minha alma perturbada,

Prefiro uma noite calma e silenciosa

& a face amanhecida completamente babada.

Não desejo nem a quem merece

a dor de não encontrar a posição adequada

Talvez seja esse o maior de todos os males

Pior somente é dormir ao lado de quem solta gases.

Carlos Gadamer
Enviado por Carlos Gadamer em 25/01/2018
Código do texto: T6236372
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