O sono dos justos.
Esse desejo de viver na cama
estirado como um morto, com o cabelo desgrenhado,
bocejando mesmo sem sono, bagunçadamente enrolado
tanto no lençol quanto no travesseiro abraçado.
Essa vontade de permanecer imóvel,
ou de me arrastar como uma lesma
de um lado ao outro da extensão da cama,
não levantar nem para colocar o pijama.
Essa preguiça sobrevive à mudança de estação,
seja no mormaço dos dias de verão,
seja no frio terrível das noites de inverno,
meu espírito continua pesado como o corpo de um servo.
Ninguém está permitido a me tirar dessa situação
& aquele que vier a cometer tal delito
decerto se tornará o meu maior inimigo.
Vejo, pelo buraco da janela, a multidão
trabalhando como se fosse gado,
sem pensar mais de uma vez,
volto a puxar meu ronco pesado.
Não gosto dos sonhos nem dos pesadelos,
ambos deixam minha alma perturbada,
Prefiro uma noite calma e silenciosa
& a face amanhecida completamente babada.
Não desejo nem a quem merece
a dor de não encontrar a posição adequada
Talvez seja esse o maior de todos os males
Pior somente é dormir ao lado de quem solta gases.