Zero

E se morrer de dormir tanto?

E se escorregar por não pisar no que é de verdade?

E se pronta, já me demoro a buscar

o fôlego, o suspiro, a palavra que me escapa?

o buraco que esteve em mim vai abarcar tantas emoções?

o mundo não é meu, eu não sou do mundo

pudera poder estar para qualquer coisa, mas não é o caso

Não estou para nada

Não estou para ninguém

Eu observo de longe e de perto o que não posso acompanhar

Vicissitudes de uma vida procurando entender a arte sola

muita pretensão, pouca satisfação

cantar às alturas para ouvir o silêncio mais nobre

dar voltas e mais voltas

ao som da ópera de Maria

que esfrega em minha não humilde cara

que eu não tenho o que falar mais do que já falo

sem ensaios

sem prólogos

sem conclusões

escrever é só o ato de redenção perante toda mediocridade que se esconde na realização fatídica de nossos dias

Não há como terminar se não admitir

Cada vida, cada alegria começa sem mim, sem você. Está tudo pago, tudo está garantido. O invisível espera por varrer os números até o zero, novamente.

Nina V Vicente
Enviado por Nina V Vicente em 29/01/2018
Código do texto: T6239927
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