Zero
E se morrer de dormir tanto?
E se escorregar por não pisar no que é de verdade?
E se pronta, já me demoro a buscar
o fôlego, o suspiro, a palavra que me escapa?
o buraco que esteve em mim vai abarcar tantas emoções?
o mundo não é meu, eu não sou do mundo
pudera poder estar para qualquer coisa, mas não é o caso
Não estou para nada
Não estou para ninguém
Eu observo de longe e de perto o que não posso acompanhar
Vicissitudes de uma vida procurando entender a arte sola
muita pretensão, pouca satisfação
cantar às alturas para ouvir o silêncio mais nobre
dar voltas e mais voltas
ao som da ópera de Maria
que esfrega em minha não humilde cara
que eu não tenho o que falar mais do que já falo
sem ensaios
sem prólogos
sem conclusões
escrever é só o ato de redenção perante toda mediocridade que se esconde na realização fatídica de nossos dias
Não há como terminar se não admitir
Cada vida, cada alegria começa sem mim, sem você. Está tudo pago, tudo está garantido. O invisível espera por varrer os números até o zero, novamente.