O círculo do séculos

Ressuscita a voz do homem na canção

ressuscita o gozo de ver a saudade

transformar-se em mãos dadas e firmes.

Ressuscita o trabalho e o sol na varanda

ressuscita todas as tuas certezas e lendas

num ter na vida a morte que se recicla –

e todos os objetos destruídos e guardados

na andança da gente em círculos de borda

em borda, num diâmetro que se descobre.

Ressuscita para saber que tudo se retira

sem ter tempo e tanger espaço adequados

porque na há ninguém que encontre o centro.

Ressuscita para se perder de vez nas horas

ressuscita, porque tens que ir embora

na esperança de seu ânimo inominável.

Ressuscita porque meu coração se esvai

e eu preciso da vida que há na vida alheia

e para saber que eu também não tenho certezas.

Ressuscita, enfim, que a vida é assim mesmo e

o amor é só um pouco do que podemos ter,

grão de nossas biografias perto da eternidade.

http://metrezuza.blogspot.com