CONCHA, tão de si ausente ...

Não era para entender

quanta nudez morava

naquele despojamento

...

[ Concha ]

Descobri-a e destapei-a

com as minhas mãos.

Alisei, com desvelo,

uma planura em seu redor;

... Descobri-a

e não entendi o que era

fazendo jus ao absurdo

das bolas de cristal.

... Destapei-a

sentindo ali o areal

em redor do corpo

de uma metade bivalve,

na ponta dos meus dedos;

Não podia discorrer

se aquilo era vazio,

se ausência, se estava

exposto à minha cegueira

o ser por fora de uma casca,

ou a só metade de si,

lúcida e luzente ao sol,

meia vestida de domingo,

e toda ao longo do tempo

que passa dentro e à beira... mar.

Descobri-a sem entender

o ser-se concha

tão de si ausente;

... ou só de mim,

mais exposto que ela,

mais que o mar

no poema presente

da miragem de areia

e vertigem de ser... a estar.

Luis Melo
Enviado por Luis Melo em 05/02/2018
Código do texto: T6245815
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