Meio Poesia, Meio Peleja

Quando ouço o barulho do vento pela fria madrugada

É dai que me vem mais um samba novo

É o sopro do Criador

São as cornetas dos Arcanjos que me acorda

São as cartas dos Anjos que me aborda

É a chegada de Iansã

É a presença de Xangô

Acerto o tom no violão e me vem logo o refrão

Vem junto com a vontade louca de falar de amor

Você sabe como é!?

A noite

Uma bebida

Um cigarro

Um sorriso largo ou discreto

É o paraíso carnal

Depressa já vem quase todo samba pronto

Ponho um pouco de sofrimento pra ficar dramático

Uma pitada de desilusão e mais alguns acordes

E pro final deixo a solução no plano astral

Sei que meu samba não é comercial

Sei que a vida não é um comércio

A vida é uma dádiva

É um presente

Assim também é o samba que Deus manda

É como se fosse uma filha ou um filho

A gente tem que cuidar muito bem dele

Não se pode vender o samba

Tem gente que vende

Eu sei

Ta errado mas tudo bem

Chego até pensar que meu samba é só um samba qualquer e mais nada

Não

O meu samba me deixa tocado

O meu samba me arrepia o corpo todo

As vezes fico comovido se for um samba dedilhado

Fico feliz quando ele sai assim todo sincopado

O meu samba me deixa legal

As vezes é depressivo mas tem pulsação arterial

As vezes é meio mole

Meio confuso

Uma baita desordem

As vezes chega a ser ruim pra mim

Mesmo assim ainda me deixa muito feliz

No meu samba não pode faltar um bom tamborim

Apertadinho

Esticadinho

Um surdão pesadão

Tipo treme terra

Maracanã que balança

No meu samba não pode faltar tristeza e nem esperança

Não pode faltar um pandeiro

Samba de malandro tem que ter pandeiro

Samba de malandro nasce no terreiro

Sai do terreiro

Vai embora

Viaja pra fora

Ganha dinheiro e depois sempre volta ao terreiro

Paulo Poba
Enviado por Paulo Poba em 05/02/2018
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