FLAGRANTES

1

Homens robotizados,

teleguiados por suas maquininhas portáteis

ignoram a lágrima da flor

que chora com saudade do pássaro que a beijou.

2

O semáforo fica vermelho

e a fome toma a forma de malabaristas

enquanto os circos fecham as portas

e os comerciantes comemoram o aumento das vendas.

3

Enquanto o samba na avenida se espalha

os homens-lobo forram as camas dos sambistas com lençóis de pregos.

Estarão tão anestesiados que a dor lhe será doce.

4

Havia um país onde não havia tristeza, não havia fome, nem pobreza, não havia dor, ninguém chorava.

Um dia um forasteiro perguntou a um habitante:

Vocês vivem sempre nessa felicidade?

O que é isso? Perguntou o habitante.

5

Quando eu era pequeno, bem pequeno, me vestiram uma fantasia.

Gostei tanto que nunca mais a tirei. Aqueles que me vestiram morreram todos, menos a minha mãe. Uma noite, enquanto eu dormia, ela retirou-me a fantasia. Qual não foi sua surpresa:

eu era igual à minha fantasia!

henrique ponttopidan
Enviado por henrique ponttopidan em 10/02/2018
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