FLAGRANTES
1
Homens robotizados,
teleguiados por suas maquininhas portáteis
ignoram a lágrima da flor
que chora com saudade do pássaro que a beijou.
2
O semáforo fica vermelho
e a fome toma a forma de malabaristas
enquanto os circos fecham as portas
e os comerciantes comemoram o aumento das vendas.
3
Enquanto o samba na avenida se espalha
os homens-lobo forram as camas dos sambistas com lençóis de pregos.
Estarão tão anestesiados que a dor lhe será doce.
4
Havia um país onde não havia tristeza, não havia fome, nem pobreza, não havia dor, ninguém chorava.
Um dia um forasteiro perguntou a um habitante:
Vocês vivem sempre nessa felicidade?
O que é isso? Perguntou o habitante.
5
Quando eu era pequeno, bem pequeno, me vestiram uma fantasia.
Gostei tanto que nunca mais a tirei. Aqueles que me vestiram morreram todos, menos a minha mãe. Uma noite, enquanto eu dormia, ela retirou-me a fantasia. Qual não foi sua surpresa:
eu era igual à minha fantasia!