Profano
Eu sou o que sou
E ninguém mais comigo
Nem pai e nem filho
Sem espírito
Sequer fui parido
Sem vestes sacramentais
Derramo mais uma taça
De vinho tinto barato
Brindo junto às traças
Ao meu reino que veio dacolá
No lombo de jumentos
Com especiarias e ungüentos
Eu aguento
As invasões bárbaras
Línguas guturais
Ásperas
Cusparadas e chicotadas
O escárnio da face-irmã
Eu sou um e não me divido
Não multiplico
Mal aprendi a somar
Sou o primeiro
Dentre muitos herdeiros
Sombras de outros erros
Mas sem pares que acheguem-se a mim
Sou só
Órfão
Uma criança perdida numa missa
Rezada em latim
Acompanhada de orgão
Coro e mixórdia
Choro
Pai, por que me abandonaste?