Doce de abóbora

Carmela acordou;

Recebeu a notícia de que a vizinha da rua de trás havia falecido.

Pensou no quanto a vida era frágil.

Foi ao velório;

Visitou um outro túmulo;

Rezou umas duas ou três orações.

Pensou novamente no quanto a vida era frágil.

Dona Carmela observou a amiga que jazia no caixão a sua frente.

Pensou que ninguém era dono da própria vida.

Pensou em quando seria sua vez.

Demoraria, claro.

Afinal, Carmela estava cheia de saúde.

Chegou em casa;

Pensou, de novo, no quanto a vida era frágil, e foi tomar banho.

Se passou um dia;

Eram 16:00h e dona Carmela estava preparando o café da tarde.

Colocou o bolo sobre a mesa.

Fez o café.

Cortou as abóboras enquanto conversava com o marido.

Dona Carmela parou de responder.

"Carmela? Carmela?"

Carmela morreu no meio de uma frase um dia depois de ter pensado sobre a fragilidade da vida.

Carmela morreu fazendo um doce de abóbora.

Nina Cerqueira
Enviado por Nina Cerqueira em 15/02/2018
Código do texto: T6254414
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