Doce de abóbora
Carmela acordou;
Recebeu a notícia de que a vizinha da rua de trás havia falecido.
Pensou no quanto a vida era frágil.
Foi ao velório;
Visitou um outro túmulo;
Rezou umas duas ou três orações.
Pensou novamente no quanto a vida era frágil.
Dona Carmela observou a amiga que jazia no caixão a sua frente.
Pensou que ninguém era dono da própria vida.
Pensou em quando seria sua vez.
Demoraria, claro.
Afinal, Carmela estava cheia de saúde.
Chegou em casa;
Pensou, de novo, no quanto a vida era frágil, e foi tomar banho.
Se passou um dia;
Eram 16:00h e dona Carmela estava preparando o café da tarde.
Colocou o bolo sobre a mesa.
Fez o café.
Cortou as abóboras enquanto conversava com o marido.
Dona Carmela parou de responder.
"Carmela? Carmela?"
Carmela morreu no meio de uma frase um dia depois de ter pensado sobre a fragilidade da vida.
Carmela morreu fazendo um doce de abóbora.