Novas letras de desolação
Pelos raios de sol que irrompem as frestas da minha cortina transparente, sinto queimar minha pele vadia.
Amanheço com o dia;
mas permito-me seguir sonhando teu cheiro.
Todas as coisas que escreveu em meu corpo
com teus dedos macios, com teu jeito torto,
releio sozinho e me pego sem jeito
descrevendo minha alma em rotos esboços.
Todos os poemas que ensaiou no meu ouvido,
ora os ouço sem nem te escutar.
Penitente em sulcos de uma embarcação triste
Navego tocando os teu seios firmes.
No frio sopro do vazio
No amargar do sabor de nada
Avisto a loba impávida e mirrada
Do pecado que vindica em cantos novos
Me perdi nas horas do agora,
quero calar e calado ficar.
Quero sentir você me queimar
Descansar em teu seio, me perder no lagar
de teus olhos pequenos que gritam-me o mundo.
Sentir na epiderme o mistério do fundo.