Mater... de matriz velada
Mater
Eu não fui sempre assim
mas a minha mãe
sempre foi a noite...
sem leito,... sem sossego.
A minha mãe sempre foi
a que me conta histórias
que nem sempre me custam ouvir
nem sempre me adormecem.
Ainda assim são quase silêncios
mas tão mansos que não ferem
não interferem com nada.
A minha mãe
é o único medo do escuro
que não me dá ressaca
não me massacra
e, ao invés, revolve-se em mim
como o primeiro carinho
quiçá, carinho
. . . . . . . cego.
A pesar na minha alma
de rapazinho assombrado,
as luzes plácidas da noite;
e eu não me canso
de lhe inventar
afectos e encantos maternos.
Ai mãe, madre-minha-pérola,
meu nácar e matriz,
minha noite velada,
mártir da euforia
de todas as minhas mágoas;
Ai, mãe como eu quero...
mesmo, mesmo, tanto, tanto,
encomendar-te um sonho.
E que seja um sonho
. . . . . . . . . . .cego.
Já nem tudo me chega
desta noite ténuescente
talvez porque a lucidez
se me obstine, caprichosa,
pela miopia a dentro;
talvez que a mira lucífuga
de um certo entendimento
denuncie o meu querer
que na alma se emprenha.
E só essa noite maternal
se pode ter por testemunha
de tal consciência;
que da sua penumbra
emana para mim o presságio
de eu não claudicar
no intento incendiário
de me oferecer, vivo. Sim!,
reafirmar-me pelo parto
do possível em excelência,
do desiderato de sublimação
a brotar do meu fogo.
Porventura um fogo
. . . . . . . .cego.
É por aqui que se burila
um destino remanescente
para os meus passos.
A tornar-se insana a ousadia
de reservar para mim
o recôndito peito da noite.
Se não estou em erro,
levo para qualquer eternidade
o ventre prenhe de um credo.
Ainda que seja credo...
. . . . . . . . . .cego
de uma cegueira lonjura certeza
de estes meus olhos
só alcançarem tactear
utopias de eternidade
quimeras em verso
e lágrimas da noite.
______________________LuMe