O poeta e os pássaros.
Por que eu não consigo
escrever sem pensar?
Por que eu tenho de passar
horas para conseguir dizer
o que eu sinto?
Eu gostaria que as palavras
voassem da minha cabeça
como os pássaros de Veneza
voam sem colocar força
em suas belas asas.
Ah! Como seria maravilhoso
sentar diante do papel
e me sentir no céu
em um vôo sem fim
completamente despretensioso.
Sentir o vento na minha cara
arrastando minha cabeleira para trás
enquanto me lanço no maior gás
contra a corrente, em direção
do nada.
Por que é difícil dizer
palavras tão simples
de um homem tão reles
cujo único desejo digno
consiste em escrever?
Eu estou à procura
tanto da inexplicável leveza
quanto da inesquecível beleza
dos pássaros que vivem longe
dos homens e das ruas.
Lá no alto, sem dor
a não ser a mesma do poeta
aquela dor secreta
de quem vive na solidão
em companhia exclusiva do amor.
Amor pelo vento forte
cuja força derruba os fracos
aqueles que vivem lá embaixo
sem nunca terem sentido
o gosto de voar à beira do abismo.