SAFHIR... rosto de longe

[ Safhir ]

Acocorado,

membros a pasmar

cóccix assente numa pedra,

braços estendidos

como alavancas distensas

desde os ombros

por sobre os joelhos,

até às mãos, pendentes

de abandonos;

pestanejar a cada hora

para que o olhar

humedeça ao espraiar-se

pela fímbria do deserto.

Aparentemente,

nada para a vista

nada para entender

nada, além de ali estar

e ser quem é.

Safhir um nome longínquo

para mais um vigilante

num tédio milenar.

Por agora o de sempre

que ocorre na mira do olhar:

parece ter o mesmo tom

das rugas que aprenderam

a esperar;

das rugas que já sabem

e mais adiante

fazem para esquecer

para que volte a haver

mais e mais a esperar

das formas e das cores

dos cheiros e do toque

e, particularmente,

dos sons arrastados

da madrugada.

No rosto de Saphir

vincos no tisnado

de ali existir,

de ler sem escrita

a sua própria existência

no verso linear do horizonte.

Uma oportunidade

boa demais para se perder

ou para se aproveitar.

Do apartar de extremos

as previsões de Saphir

não deixam de ser,

enfim... uma boa miragem.

A sua presença ali,

quase de ausência,

mas a recolher fundo

o sortilégio que encerra

uma paixão menor,

ou só o fragor

de outra bem maior,

mais o vento nocturno

que apaga a candeia

e atiça a fogueira;

ali, à sua frente,

ali, agachado

membros a pasmar

(senão doíam)

cóccix assente numa pedra

braços estendidos de Saphir

para um tédio milenar.

_____________________LuMe

Luis Melo
Enviado por Luis Melo em 20/02/2018
Código do texto: T6259491
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