SAFHIR... rosto de longe
[ Safhir ]
Acocorado,
membros a pasmar
cóccix assente numa pedra,
braços estendidos
como alavancas distensas
desde os ombros
por sobre os joelhos,
até às mãos, pendentes
de abandonos;
pestanejar a cada hora
para que o olhar
humedeça ao espraiar-se
pela fímbria do deserto.
Aparentemente,
nada para a vista
nada para entender
nada, além de ali estar
e ser quem é.
Safhir um nome longínquo
para mais um vigilante
num tédio milenar.
Por agora o de sempre
que ocorre na mira do olhar:
parece ter o mesmo tom
das rugas que aprenderam
a esperar;
das rugas que já sabem
e mais adiante
fazem para esquecer
para que volte a haver
mais e mais a esperar
das formas e das cores
dos cheiros e do toque
e, particularmente,
dos sons arrastados
da madrugada.
No rosto de Saphir
vincos no tisnado
de ali existir,
de ler sem escrita
a sua própria existência
no verso linear do horizonte.
Uma oportunidade
boa demais para se perder
ou para se aproveitar.
Do apartar de extremos
as previsões de Saphir
não deixam de ser,
enfim... uma boa miragem.
A sua presença ali,
quase de ausência,
mas a recolher fundo
o sortilégio que encerra
uma paixão menor,
ou só o fragor
de outra bem maior,
mais o vento nocturno
que apaga a candeia
e atiça a fogueira;
ali, à sua frente,
ali, agachado
membros a pasmar
(senão doíam)
cóccix assente numa pedra
braços estendidos de Saphir
para um tédio milenar.
_____________________LuMe