Absinto...
Absinto
.
Calma gente!
isto é só o que eu chamo
a fímbria do precipício.
Aqui, sempre poderei
voar ou morrer!
Inusitadamente, impensável
a ideia de qualquer recuo.
Só o ir em frente
no mais incontornável
que decorra da efeméride
de uns quantos astros
vivos dentro... de mim,
assim mesmo, como factos
do registo fiel
de um atentado
contra uma zona... de ti.
Averigua-se uma culpa,
está em curso um processo
e estou retido,
preso num clip, num anexo,
num aqui e agora apenso,
logo, a ter de existir.
Logo pois... por ventura,
assim seja! como zona de ti
como espaço físico
algo desmesurado
... zona de fuga
na margem imponderável
margem-trajetória
de pêndulo místico
numa qualquer gnose
pessoal e intransmissível.
Logo pois... minha
pois que no fulcro da questão,
desbragadamente,
a minha pessoa.
Lá como aqui
e, mais se diga,
na fímbria do que tem de ser
e a modos que a parecer
abismo ou assim
entre abismo e
absinto.
.
Subitamente
algo parece não constar.
Infiro que não estou
e só posso admitir que sou
tão-somente pelo mínimo,
mesmo se entre tanto
ressoa a minha hora
e eu arreio a carga,
descarrego-me do engenho
já que rodei a chave
de se aquietar
uma pouca de vida
e se vislumbrar
alguma réstia possível
de eternidade.
De facto, não estou
meramente pelo impulso de zarpar
na diagonal ao pátio
do dever para com a vida,
e no percurso de vielas
enroladas num cigarro
assaz suspeito.
Eu sou
no jeito analógico,
da aparente proximidade do sol
ao fim da tarde
a mascarar de igual
as minhas ruas
e igual de oiro.
Sento-me num degrau
fortuitamente amistoso
e a enésima baforada
só tem de notável
soltar-se com um suspiro
numa ideia de ser feliz
e, (sei lá!), de um beijo.
Da antecâmara de um fado
vem um murmúrio de evasão,
de vontade a monte.
Precipita-se abismal
ao longo de mim
um vestígio vicioso;
ao longo do derrame
uma vertigem
e, enfim, dois extremos:
o dos meus lábios
e o da combustão.
Rodopia em voo
a beata do meu cigarro
e, do mesmo jeito,
desdiz-se uma desdita
e tão bonitamente
um desiderato clama assim:
.
"Aqui, nesta orla
como por destino
sou o aprumo da árvore,
o olhar da falésia
e do desfiladeiro
sou um peito, um fôlego;
sou esta mão cheia
de tempestades!"
.
À laia de eco
reverbera-se de volta
um temor:
Aqui, ou voo, ou morro!
.
Apuro os sentidos
e discorro
que pelo abismo
só seguirá em voo
a réstia a desacender
do meu cigarro.
Aqui pela fímbria
é onde eu me acho
é onde vivo
onde-meandro-mais-denso
de eu te sentir,
flor dos meus ventos.
Aqui, algures
mas aqui, em mim,
vive uma luz
e é dessa luminescência
que às vezes eu falo
às vezes... deliro.
...
Quero-te, vida!
e sempre poderei voar
... ou morrer!
_______________LuMe