Absurdia 2

.

Num mural leio escritas

a tinta espessa,

aparentemente desconexa

e, enfim, de veludo,

leio, sim,

como que sânscritas

palavras diligentes

a informar que:

.

"Os homens são sombras,

fúteis e abundantes,

da mulher que dança

ao som ... ... da luz do sol."

.

Leio mais:

"Qualquer sombra

bebe do chão o aparente

da cor que emerge

até do mais absurdo

dos veludos".

Leio, como já disse

o inverosímil sânscrito

na desconexão da tinta,

no moral circunstante

ao meu olhar.

.

É então que pergunto:

"Meu Deus, onde estou?"

e a única resposta

é um qualquer colapso

no termo de uma cassete

dentro da geringonça;

essa mesmíssima

a que chamam

qualquer coisa de Vídeo.

Impõem-se, explicativa,

uma porção da realidade;

tosca a porção

abrupta a realidade

e em suma

o que de mais singelo

se faz subtraível

como fita escura e trilhada

nas entranhas de um engenho.

.

Imagens, sons,

verdades diversas

e mastigadas por desventura;

desvirtuadas,

como veludo absurdo

aparentemente como tinta

e palavras num mural.

.

"Os homens são sombras..."

e eu tenho medo

de confundir o fim

com outra anomalia

engenhosa.

Tenho medo

de não entender

e de ninguém avisar

quando tudo, de facto,

terminar.

.

___________________LuMe

Luis Melo
Enviado por Luis Melo em 07/03/2018
Código do texto: T6273493
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