Centro... ... ... absoluto

.

De longe, bem longe,

de tão longe quanto,

mesmo, mesmo,

de muito fora do corpo,

precisamente, daí,

relincha um lenho,

range uma crina

pelo jeito da corda,

do arco ou da flecha,

e então, a flecha

pelo arco

a vingar-se uma virtude

que não se pode medir

nem dizer.

Tenha-se, pois, a cor

do que não se conta,

o sabor do não passa

de um grito

abafado

ou, talvez antes,

da voz ébria do violino.

Mas...

há uma força bizarra

no que se manifesta

precioso e, como tal,

ironicamente à margem

dos vícios da cogitação;

... há um instante

com um brilho dourado

e reflexos diamantinos;

...há um rutilar lânguido

no azul em que velejam

os olhos da gaivota;

...há algo sinuoso,

e diga-se, insinuante,

entre a rarefação

e a inexistência tácita

(e isto falhará

de significar alguma coisa

mas muito menos

significará nada);

...há um conjunto mimoso

de ocasos seleccionados

minuciosamente ao acaso;

- e, ainda que se instalem

as mais dilacerantes objeções

quanto à sanidade

intelectual de escritos

congéneres a este -

...há-de sempre haver

um centro

e nele

um vulto e, dele,

não se deixará de inferir

o estar de pé,

exacto,

delicado e sublime,

como em desafio

ao plano basilar do medo.

Há, de facto, um centro

e faço questão em repeti-lo

com o gozo de saber

que é de lá

que a mulher desponta

para que se ame.

_________________________LuMe

Luis Melo
Enviado por Luis Melo em 08/03/2018
Código do texto: T6274349
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