Fui homem de emocionais amores.
Fui. Mas hoje não sou mais assim.
Foram tantos enganos, e as dores,
Que achei melhor desistir de mim.
Agora se me dou, dou sem me dar.
E se beijo, são beijos protocolados,
De burocrata no balcão a carimbar,
Os papéis que lhe são apresentados.
Em mim pouco restou da vaidade,
Que poderia me dar uma filosofia,
Ou um vínculo com a humanidade,
A qual, de bom grado, renunciaria.
Hoje, com nada mais me emociono.
Não tenho fé e nem creio em Deus.
Só sinto pena desse cão sem dono,
De olhos tristes tão iguais aos meus.