O ROSTO QUE ESCORREU

O rosto escorreu

Feito contas de areia

Numa cristalina ampulheta

Se juntado em suas mãos

Côncavas como uma tigela.

Ali, naqueles traços amparados

Nasceu uma flor, que olhou

Para o rosto vazio, inexpressivo

E chorou sem achar reconhecimento.

Recuperada logo do susto, a flor

Decidiu ser um Caronte naquelas

Mãos-berço-jardim. O corpo seguiu

Sem rosto, livre de venenosas vaidades

E cheio de brilhantes possibilidades

Segurando seu novo guia, uma flor

Nascida dos vestígios do desfeito eu.