SANTA PRETINHA
Minha querida santinha,
se te chamo de pretinha
não é uma ofensa racista
mas uma expressão de amor.
És a minha bonequinha,
frágil, pequena, escurinha,
surgida num rio paulista
na rede de um pescador.
Acaso tu és africana
vinda de Angola ou de Gana
num desses navios negreiros
das dores covis perfeitos?
Acaso em feira baiana,
de uma forma desumana,
venderam-te os brasileiros
como escrava e sem direitos?
Acaso tua pele escura
sofreu a cruel tortura
das chicotadas doidas
num pelourinho insensível?
Acaso em tua alma pura
guardas ainda a amargura
das injustiças sofridas
numa escravidão horrível?
Agora, minha pretinha,
não já escrava, és a rainha
desse Brasil impiedoso
que despreza a tua cor.
Em troca, doce mãezinha,
conduzes quase sozinha
o caminhar vagaroso
desse povo sofredor.
Não é um negro que, nesta hora,
entristecido ainda chora
por um pouco de ternura
sem preconceito e mais vida
mas é um branco que te adora
e de joelho te implora
pela cura milagrosa
de sua esposa querida.
Seco as gotas do meu pranto
no teu azulado manto
na esperança, ó bonequinha,
dessa graça concedida.
Por esse milagre santo
serás para nós, garanto,
nossa eterna princesinha,
doce Mãe Aparecida.