SANTA PRETINHA

Minha querida santinha,

se te chamo de pretinha

não é uma ofensa racista

mas uma expressão de amor.

És a minha bonequinha,

frágil, pequena, escurinha,

surgida num rio paulista

na rede de um pescador.

Acaso tu és africana

vinda de Angola ou de Gana

num desses navios negreiros

das dores covis perfeitos?

Acaso em feira baiana,

de uma forma desumana,

venderam-te os brasileiros

como escrava e sem direitos?

Acaso tua pele escura

sofreu a cruel tortura

das chicotadas doidas

num pelourinho insensível?

Acaso em tua alma pura

guardas ainda a amargura

das injustiças sofridas

numa escravidão horrível?

Agora, minha pretinha,

não já escrava, és a rainha

desse Brasil impiedoso

que despreza a tua cor.

Em troca, doce mãezinha,

conduzes quase sozinha

o caminhar vagaroso

desse povo sofredor.

Não é um negro que, nesta hora,

entristecido ainda chora

por um pouco de ternura

sem preconceito e mais vida

mas é um branco que te adora

e de joelho te implora

pela cura milagrosa

de sua esposa querida.

Seco as gotas do meu pranto

no teu azulado manto

na esperança, ó bonequinha,

dessa graça concedida.

Por esse milagre santo

serás para nós, garanto,

nossa eterna princesinha,

doce Mãe Aparecida.

João Roberto
Enviado por João Roberto em 20/03/2018
Código do texto: T6285995
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