Outono

No abismo dos ratos corre esgoto

e aqui se anunciam, estúpidas,

as vozes daqueles que matam

silenciosamente e inócua,

a luta, que derrama vidas,

mas que, espalhada ao outono,

ressurge na fertilidade

de um broto que amadurece.

E, longe dessa gravidade,

desses dentes amarelados,

rogo uma prece à tempestade

e o derradeiro sol me vinga.

Nenhum lugar pertence à dor

por onde marcham os homens.

Com sua clava ambulante ulula

o grito dos bravos, que morrem

para que tudo ainda perdure

por sobre o grão de areia e terra.

Dorme, nesse sono discreto,

almas que buscam utopia.