UM QUARTETO PARA OS MORTOS TEGIRVESOS

— Eis um defunto nada humano,

que nem lembra um homem, se o foi,

e no qual nada mostra

se a morte doeu, ou dói.

João Cabral de Melo Neto

O morto cantou sua canção

Todos se espantaram com bendito ato.

Afinal, não se espera de um morto quase abstrato

Última façanha tamanha sem orientação.

Aos mortos é vedado qualquer sentimento

Devem velar o segredo da tenra morte.

O rosto deve ser liso, sem lágrimas, sem sorte

Aos mortos nada de cantos, palavras ou tormento.

Não podem, não devem jamais chorar,

Pois as lágrimas entregam tudo no ar.

Humano-morto, morto-humano, mortos todos nós.

Se a morte doeu, ou dói; os mortos não o devem dizer.

Para se descobrir é preciso, enfim, e solene morrer.

É só uma questão de tempo para a resposta se ter.